sábado, 14 de junho de 2008

O breve espetáculo.


Era um dia ensolarado, como outro qualquer, talvez, um sábado. Estava a retornar da escola que estudava em um ônibus coletivo quando este parou diante um semáforo de uma avenida movimentada, na cidade onde morava.
Do ônibus olhei para o visor do semáforo de pedestres e neste apareceu o número trinta. Ficaria, ali, diante aquele semáforo por trinta segundos e não imaginava como poderia ser tão adversa e notória a realidade defronte um sinal de trânsito.
Foi quando percebi uma apresentação de malabarismo diante os carros. Eram três garotos. Eles utilizavam bastões e os arremessavam para o alto, após um deles estar sobre o ombro dos outros dois. Ajeitei-me na cadeira, do ônibus, para melhor observar aquele breve espetáculo. Era algo tão simples e ao mesmo tempo tão complexo que acabei distraindo-me quanto à presença dos outros passageiros, mas isso naquele instante já não mais importava-me. A minha atenção, agora, era para o tempo restante daquela apresentação que de modo ágil e sutil fascinava-me.
De repente, assustei-me ao ver o bastão de um dos garotos cair no chão aos vinte segundos da representação circense de malabares. Cheguei a imaginar um final trágico para o espetáculo, no entanto com um pulo em direção ao chão, e sem utilizar as mãos o garoto apanhou o bastão no chão com o auxílio dos outros dois bastões e para minha surpresa o show de malabares reiniciou. Cheguei a pensar que a queda do bastão foi proposital devido o modo como o incidente foi revertido.
Aos quinze segundos findava-se a apresentação e foi nesse instante que notei, de forma brusca, o contexto em que aqueles garotos viviam. Os três malabaristas, já citados, eram meninos de rua e nestes últimos instantes percorriam em direção aos motoristas em busca de uma moeda.
Nenhum aplauso ou elogio apenas suspensão dos vidros eletrônicos dos carros diante a aproximação dos garotos. Faltavam cinco segundos “a cortina já ia ser fechada”, ou melhor, o sinal já ia “abrir”, e poucas foram às moedas conquistadas, já era visível a inquietação dos motoristas e ao sinal verde avançaram sobre os garotos que, agora, corriam para a calçada. Olhei para o meu relógio de pulso e este marcava o meio-dia. O ônibus começou a se movimentar e pude ver a adversa realidade da qual já vos falastes: os garotos na calçada - a espera de mais trinta segundos - ao lado de duas crianças com sua mãe – uma com um hambúrguer do Mac Donald´s e a outra com uma sacola das lojas Americanas.
E, assim, de forma, simplesmente, agressiva aos meus olhos e mente aquele dia ensolarado, cheio de breves espetáculos, transcorria como um outro qualquer.


por Diego Almeida.

Nenhum comentário: